HOMENAGEM AO GENERAL IBIAPINA, UM VELHO E QUERIDO AMIGO

14/02/2011

Cel Cláudio Moreira Bento
Presidente da Federação de Academias de História Militar Terrestre do Brasil e da Academia de História Militar Terrestre do Brasil de Resende-RJ



Foi com muito pesar que tive a triste notícia do falecimento, aos 93 anos, do General Hélio Ibiapina de Lima, através do Jornal Inconfidência de 21 dez 2010.
A primeira missão do Aspirante Hélio Ibiapina foi no 1º Batalhão Ferroviário em Santiago de Boqueirão, mas em realidade como 2º tenente residente em Canguçu, minha terra natal, da Residência ali destacada do citado Batalhão, encarregado da construção do trecho da Ferrovia Pelotas-Santa Maria, que terminou por ser abandonado. Ferrovia cujo trecho Rio Grande–Pelotas-Canguçu (situado na Serra dos Tapes) fora um velho sonho estratégico do senador General Osório para, em caso de invasão do Rio Grande do Sul pelo litoral, ali organizar a resistência para uma contra ofensiva. Esta foi uma das razões para dar o seu nome a rua principal de Canguçu.
Quando conheci o 2º Tenente Ibiapina eu tinha 10 anos. Ele montara sua moradia de madeira de pinho, aplainada e sem pintura, em capão de mato, que existia no fundo da chácara, propriedade de minha avó materna, Firmina Mattos Moreira. Ela avó de três oficiais do Exército e prima irmã do General Revolucionário de 23, Zeca Netto e filha do Ten. Cel. Honorário do Exército, Theóphilo de Souza Neto que comandara um Corpo de Cavalaria da Guarda Nacional de Canguçu, na conquista de Forte Curuzu.
Curiosos eu e outros meninos fomos visitar o novo personagem, Lembro que ele e seu colega nos convidaram a entrar na casa. Recordo como se fora hoje, que junto a entrada dos fundos descansava num banco, um revólver 38 de sua propriedade. Neste local hoje existe o Ginásio Esportivo Municipal batizado como o nome de meu saudoso pai Conrado Ernani Bento.
E logo o 2º Tenente Ibiapina se impôs e se tornou querido e estimado pela comunidade.
Por longos anos seu nome foi lembrado por todos que com ele tiveram contato, mantendo correspondência com alguns.
Sua função fora a de Engenheiro de Campo encarregado da exploração locada e projeto de linha férrea em Canguçu com base em estudos realizados por ingleses na década de 30. E nesta função percorreu o 3º distrito de Canguçu sendo acolhido com sua equipe por fazendeiros que logo com eles estabeleceram amizade .
E lá ficou a história até hoje comentada e aumentada nas rodas de galpão, de um cearense tenente do Exército que estando fazendo a locação de um trecho e foi surpreendido com o ataque de um touro feroz que, não dando tempo para fugir do ataque, puxou o seu 38 e esperou corajosamente o desfecho. Atirou na cabeça do touro o deixando agonizante. E terminaram por matá-lo e dele fazer um churrasco com a permissão e participação de seu dono para comemorarem a proeza e o sangue frio do tenente Ibiabina.
Foi lá que teve a sua lua de mel com sua esposa acreana, D. Zilda Cabral com quem casou em 8 de março de 1843 e como hóspede da venda de Willy Strolichi , casa hoje em ruínas na Vila Isabel, na encruzilhada que dava acesso a Canguçu Velho onde funcionara a sede, de 1783/89, da Real Feitoria do Linho cânhamo do Rincão do Canguçu.
No fundo da chácara da minha avó fora construída uma represa, onde aprendemos a nadar. E nos chamava atenção o Ten Ibiabina nadando, o para nós desconhecido “Craw australiano”, que logo passei a praticar, ao contrário das deselegantes “braçadas” e “nado de cachorrinho”. E ele corrigindo nossas posturas. Daí o considerarmos nosso instrutor naquele estilo.
Por longos anos sua foto, em trajes civis, ficou entronizada na sala de estar do Studio Art. de Egídio Camargo, junto com as fotos de dois filhos de Canguçu, que tombaram na Itália nas fileiras do Regimento Sampaio e no Regimento Bandeirante e que representaram 10% dos gaúchos mortos na FEB. Expressiva percentagem que muito orgulho causa a minha comunidade.
Creio que tenente Ibiapina tenha motivado meu ingresso na Arma de Engenharia. De Canguçu ele foi transferido como instrutor de Engenharia para a AMAN.
E a partir de meu estágio em 1970/71, no IV Exército, 30 anos mais tarde, nos reencontramos diversas vezes e recordávamos aqueles tempos e trocávamos correspondências e ambos escrevíamos no Jornal do Comércio de Recife. Ele em cartas intituladas, Cartas do Tio Juca e eu sobre a Insurreição Pernambucana, como encarregado pelo IV Exército de coordenar o projeto, construção e inauguração do Parque Histórico Nacional dos Guararapes e escrever meu primeiro livro As batalhas dos Guararapes – Análise e Descrição Militar, á luz de fundamentos de Arte Militar apreendidos na ECEME.
E recordando meu Canguçu, vez por outra escrevia que por ali haviam passado três ilustres filhos do Ceará O primeiro fora o Capitão Antônio de Sampaio no comando de uma Companhia de Infantaria em 1845/49, para ali neste então distrito de Piratini, assegurar r a Paz Farroupilha na região. E local de onde ele levou sua esposa D. Júlia dos Santos Miranda.
Evento que recordamos com pompa e circunstância, em 21 de maio de 2010 nas comemorações do Bicentenário do Brigadeiro Antônio de Sampaio, tendo, inclusive,. por nossa proposta aprovada pela Câmara de Vereadores e decretada da pelo prefeito Cássio Freitas Mota, sido acrescido o seu nome a Avenida Exército Nacional, Esta em reconhecimento a diversas contribuições do Exército à minha comunidade, hospital avenida etc.
O segundo personagem foi o bispo de Pelotas D. Joaquim Ferreira de Melo, natural de Crato e também muito estimado em Canguçu
Gen Ibiapina aos 83 anos na Sala Sena Madureira do Clube Militar que presidia e, em 25 set 2000, proferindo elogio a seu patrono de Cadeira o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco( Foto do Arquivo da AHIMTB)


Como selo, desta longa amizade, tive o prazer de na qualidade de Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, empossá-lo no Clube Militar de que era Presidente e como acadêmico na Cadeira Marechal Humberto Alencar Castello Branco, sucedendo na cadeira seu falecido antecessor cearense e veterano da FEB, na ELO o Cel Elber de Mello Henriques E guardamos com carinho o seu rico e original pronunciamento sobre seu ilustre conterrâneo com quem muito conviveu e contido no volume 37 do Arquivo de posses da AHIMTB.. Ao iniciar seu elogio a seu patrono assim escreveu:
“ Senhoras e senhores e amigos presentes. Acredito que o acadêmico Cel Claudio Moreira Bento, tenha proposto esta honraria, mais pela amizade e pelas dívidas de poucas aulas de craw australiano que lhe ministrei em Canguçu em jan/fev de 1943, do que pelo meu desempenho atuante na esfera da História Militar Terrestre do Brasil.”

Mesa Diretora da cerimônia de Posse do Gen Ibiapina na cadeira Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco; Da esquerda para a Direita Alte Hélio Martins Leôncio. patrono em vida de cadeira na AHIMTB,,Acadêmico Gen Edival Ponciano de Carvalho, Gen Ex Antônio Jorge Correia, presidente de Honra da Mesa, Cel Claudio Moreira Bento Presidente da AHIMTB, Gen Ex Alacir Werner, Gen Ex Everaldo Reis e Acadêmico Gen Jose Carlos Albano do Amarante, então Delegado da AHIMTB no Rio. como comandante do Instituto Militar de Engenharia


E no mais, o Jornal Inconfidência evocou muito bem e com justiça a História a bela e útil vida e obra do ilustre e admirado Soldado General. Hélio Ibiapina de Lima de cuja amizade privamos.

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