A imagem de Nossa Senhora da Conceição da Igreja Matriz de Canguçu

17/12/2010

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Em que pese o grande número de anos transcorridos desde que colocada no altar mór da Igreja Matriz de Canguçu, a pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição resistiu a raios em 1912, 1914. E, em 1921 ao incêndio da sacristia, quando era pároco o padre espanhol Alberto Balaguer Valor, conservou do templo muitas de suas imagens antigas. Depois do incêndio Canguçu foi visitado em 1º e 2 de janeiro de 1922 pelo ilustre canguçuense Bispo D. Otaviano de Albuquerque, bispo do Piauí que terminou sua vida religiosa como Arcebispo de Campos no Rio de Janeiro, cidade que perenizou seu nome numa de suas ruas e numa escola. D. Otaviano visitou a igreja onde fora batizado e junto a qual passara sua infância. Ele contribuiu financeiramente para reforma da sacristia incendiada e foi batizada com o seu nome uma rua de Canguçu.

A pequena imagem da padroeira de Canguçu com cerca de 40 cm de altura e rara beleza é de fina escultura, é a primitiva, somente despojada de sua coroa de prata, maculada por um raio em 1914. A sua origem é desconhecida.
Sabe-se que é mais antiga do que a cidade de Canguçu. Em 1870 depois do término da Guerra do Paraguai, ela foi substituída por acharem pequena e muito humilde. E fiéis protestaram sob a seguinte argumentação:
“Fora aquela pequenina senhora que batizara, casara e enterrara muitas gerações de fiéis canguçuenses e também fora a que assistira as guerras de 1801, 1811-12, a Cisplatina 1825/28. a Revolução Farroupilha 1835/45, a guerra contra Oribe e Rosas 1851-52 e a do Paraguai 1865/70 e as dores e as alegrias locais, e por isso, no altar mor deveria ficar”.
Este argumento encerrou a discussão e determinou sua volta ao altar mor.
Em 1912-1914, ela teve sua integridade ameaçada por raios que penetraram pela janela lateral existente à direita do altar mor. Quando do incêndio da sacristia em 1921 ela foi salva das chamas pelo jovem canguçuense Walter Oliveira Prestes que com o risco de queimar-se a salvou das chamas entre aplausos de fiéis. Ele pertencia a confissão religiosa episcopal. Um sinal do atual ecumenismo em Canguçu de que a acadêmica Irmã Cecília Rigo tem sido um grande exemplo. Em 1956 teve início uma remodelação completa do templo que duraria 13 anos. Recordo que no ano anterior declarado a Aspirante a Oficial do Exército teve lugar cerimônia neste templo de batismo de minha espada de oficial pelo padre Zomar, natural de Piratini.

Durante a reforma da igreja que se estendeu por 13 anos ela funcionou em prédio que existiu no local da atual Prefeitura que no passado fora sede até 1939 do Clube Harmonia e a seguir reformado para sede do Globo Hotel que passou por diversos proprietários. Nesta ocasião pesquisamos os livros de Tombo da Matriz, faltando exemplares dos tempos da Guerra Civil 1893/95, que teve repercussões muita negativas para a comunidade em decorrência da degola depois do combate de Rio Negro da Cavalaria Civil a serviço dos governos federal e estadual por federalistas depois de se renderem sob garantia de vida. Assunto que abordamos com detalhes na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.154(378):55- -88,jan./mar.1993. e na Revista do Centro de Pesquisas Literárias (CIPEL) 2009, em artigo O Exército no Rio Grande do Sul e a sua atuação na Guerra Civil 1893/95.


Estado da Igreja
N.Sra. da Conceição
de Canguçu antes de
iniciada a sua reforma.
(Foto do Arquivo
Conrado Ernani Bento e
por ele anotada a data a
tinta e com o autor)



A reforma levada a efeito pelo artista Adail Bento Costa conservou só a fachada principal e o restante foi demolido dando lugar a um templo mais amplo. Foi mudada de local a sesquicentenária pia batismal construída por volta de 1851 e que desde então nela foram batizadas gerações de canguçuenses e, inclusive o autor no dia de Natal de 1932. Esta pia batismal construída 6 anos da criação de Canguçu constitui junto com a imagem da padroeira as duas mais preciosas relíquias da comunidade.
Recordo que neste período meu pai havia colecionado fotos antigas do templo de cuja atividade de reconstrução havia participado com destaque com a Professora Elaine Selistre esposa do juiz Dr Tasso Selistre. Esta coleção a doei em 1972 a Adail Bento Costa e com sua morte não consegui reencontrá-la com seus herdeiros Em 1993, perto próximo dos 200 anos de Canguçu, a histórica imagem foi mandada pintar por restaurador especialista em Pelotas pelos casais festeiros da novena de 1993, segundo a professora Maria das Graças Valente da Silveira em O Liberal em 1998.
Em 25 de março de 1646 Nossa Senhora da Conceição, devoção portuguesa de longa data foi consagrada pelo Rei D. João IV a Padroeira e a Rainha do Reino de Portugal em cerimônia solene na Vila Viçosa. E para agradecer a Independência de Portugal da Espanha, a qual estivera vinculado como um só reino, de 1580 a 1640, no período de União das Coroas de Espanha e Portugal. sob o rei de Espanha. E a partir desta data nenhum rei, rainha príncipe ou princesa de Portugal usou coroa na cabeça na presença da imagem de Nossa Senhora da Conceição por considerarem que só a padroeira e rainha de Portugal Nossa Senhora da Conceição tinha este direito.
E nos quadros onde aparecem reis e rainhas de Portugal suas coroas estão colocadas de lado sobre um tamborete ou almofada de cetim.
Conceição é a corruptela da palavra original Concepção. Ou Nossa Senhora da Concepção, por haver concebido sem o pecado original e como virgem Jesus Cristo como filho do Espírito Santo. Circunstância consagrada como um dogma da Igreja Católica. Ou seja o dogma de Imaculada de Nossa Senhora da Conceição, de 8 de Dezembro de 1874 pelo Pio IX.
Ao Portugal separar-se de Espanha, esta lutava contra os holandeses que invadiram o Nordeste. Inicialmente a Bahia em 1624 e mais tarde Pernambuco em 1630. E durante a guerra contra os holandeses em Pernambuco ocorreu a Insurreição Pernambucana 1644-1654, guerra herdada por Portugal, assunto sobre o qual escrevemos As Batalhas dos Guararapes análise e descrição militar e as invasões holandesas na Bahia e Pernambuco na História do Exército perfil militar de um povo em 1972 no capitulo 2ª Guerra Holandesa a convite do Estado-Maior do Exército como membro de sua Comissão de História do Exército. Em razão da luta e vitória final de Portugal contra os holandeses a padroeira e rainha de Portugal Nossa Senhora da Conceição foi consagrada com grande devoção em Salvador e Recife. Na cerimônia em Vila Viçosa D. João IV criou a Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição e determinou aos alunos da Universidade de Coimbra que antes de colarem grau deviam prestar o juramento de defender Nossa Senhora da Conceição.
Esta Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição seria a origem dela passar a ser a padroeira do Exército de Portugal e por extensão, a partir de nossa Independência, consagrada por D. Pedro I como a padroeira do Brasil e por extensão a padroeira do Exército Imperial do Brasil. Devoção substituída pela República como padroeira do Brasil a Nossa Senhora (da Conceição) Aparecida, a padroeira do Colégio Aparecida de Canguçu onde estudamos de 1938 a 1944.
Em 12 de outubro de 2010 no dia da Padroeira do Brasil de minha casa em Itatiaia as margens do rio Paraíba do Sul recordei a história de Nossa Senhora Aparecida. Em 1717 três pescadores num dia ruim para pescaria, segundo a tradição, ao recolherem sua rede sem nenhum peixe notaram algo estranho na rede. E identificaram como sendo uma imagem sem a cabeça de Nossa Senhora Aparecida, a rainha e padroeira de Portugal e por extensão de sua colônia o Brasil.
Ao recolherem novamente a rede notaram um pequeno objeto parecendo uma pedra e que logo identificaram como sendo a cabeça da Nossa Senhora da Conceição recolhida na rede. E a partir daí tiveram uma pesca excepcional considerada milagrosa. E teve inicio uma devoção aquela imagem que seria consagrada como Nossa Senhora Aparecida e com o correr dos anos seria consagrada como a padroeira do Brasil. Ou em realidade uma Nossa Senhora da Conceição recolhida pela rede de pescadores do fundo do rio Paraíba do Sul. Em 1982 quando comandante do 4º Batalhão de Engenharia de Combate em Itajubá-MG. Em 12 de outubro, soldados do Batalhão decidiram como meu estímulo colocar uma imagem de Nossa Senhora Aparecida num nicho de um enorme tronco de uma árvore morta que originalmente ficava junto a margem do rio Sapucaí nos fundos do Batalhão.
Tronco que fora escolhido por no passado haver sido encontrado enredado em suas raízes que se estendiam rio adentro o corpo de um soldado que se afogara no rio e cujas buscas ao longo do rio foram infrutíferas, até que foi localizado seu corpo enredado em raízes.

Uma procissão em Tuiuti em reverência a padroeira do Exército N.Sra. da Conceição em pleno Teatro de Guerra no Paraguai pelos soldados brasileiros. Era uma cena de rotina. Depois da vitoriosa Batalha de Tuiuti de 24 de maio de 1866, o General Osório reuniu todos os militares e bandas e cantaram em ação de graças pela vitória obtida a canção do Exército de então Oh Virgem
da Conceição (Fonte; História do Exército perfil militar de um povo, v.2,p.640).



E retornando ao Batalhão, 27 anos depois, para palestra sobre o General Osório em seu bicentenário, o local por iniciativa de militares do Batalhão se transformou num Oratório do Soldado conforme parte do que se vê na foto ao lado, Nossa Senhora Aparecida uma grande devoção do Presidente Wenceslau Braz que declarou guerra a Alemanha em 1914, extinguiu em 1918 a Guarda Nacional e instituiu o Serviço Militar Obrigatório e outras providências que beneficiaram o Exército, razão de havermos proposto o seu nome para patrono do 4º Batalhão de Engenharia de Combate que com o seu prestígio ele levara para Itajubá e cuja
pedra fundamental de sua caserna ele lançou. Não teve acolhida minha proposta sendo mais tarde acolhida a de Pontoneiros da Mantiqueira. Em 1996 quando fundamos em Resende a Academia de História Militar Terrestre do Brasil a romaria ao Santuário Nacional de Aparecida registrou a presença record de 265.000 romeiros. Academia que fundamos em Resende, no contexto de um Encontro do Instituto de Estudos Valeparaibanos (IEV) tendo por objetivo o levantamento da evolução da Presença Militar no Vale do Paraíba, nos estados de São Paulo,Rio de Janeiro e Minas Gerais. Encontro em que atuamos como 3º vice presidente do IEV encarregado de orientar e coordenar cientificamente este encontro. E ele se desenvolveu em Resende, na Academia Militar das Agulhas Negras e na Associação Educacional Dom Bosco e, em Itatiaia, no Centro de Recuperação de Itatiaia (Hospital do Exército). A partir desse momento a Academia de História Militar Terrestre do Brasil muito evoluiu e se espalhou pelo Brasil na sua missão de desenvolver as histórias do Exército, Fuzileiros Navais, Infantaria da Aeronáutica, das Policias e Bombeiros Militares. E em especial suas doutrinas militares genuínas calcadas, como no caso do Exército, de 5 séculos de lutas predominantemente vitoriosas, em grande parte responsáveis pela configuração e preservação de suas dimensões continentais que não são obra de um milagre, para que gerações de militares portugueses e  brasileiros até 1822 e de soldados brasileiros a partir desta data contribuíram com suas vidas, sacrifícios e privações profissionais para esta grandeza e que hoje lutam para a nacionalização progressiva da doutrina militar terrestre brasileira e para receber do governo o apoio essencial para desenvolver equipamento militar que lhe assegure poder militar dissuasório compatível para melhor defender no 3º milênio que ora se inicia as suas riquezas da Amazônia e do Pré Sal, de ambições internacionais crescentes. Que Nossa Senhora da
Conceição ajude o nosso Exército neste alevantado objetivo.
E justo este ano e em 2011 ela trava a batalha para consolidar a sua sede junto a Academia Militar das Agulhas Negras quando esta comemora 200 anos. Que Nossa Senhora da Conceição a ajude a se consolidar em Resende e contribuir com os objetivos do Exército.

Visão da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) em Resende onde estudaram os canguçuenses Coronéis Fernando Oscar Lopes, Jairo Casarim, Paulo Morales Nunes, Claudio Moreira Bento, Genes Gentil Moreira da Silveira e Adonai Camargo. Ao lado a gravura de N.Sra. da Conceição a única decoração que existia no quarto do Duque de Caxias ao falecer e que hoje se encontra no Museu da Academia Militar das Agulhas Negras cujos cadetes desde 1932 usam como arma privativa o Espadim de Caxias cópia fiel em escala da invicta espada de 6 campanhas que Duque de Caxias patrono do Exército e da Academia de História militar Terrestre do Brasil comandou. (Fonte gravuras retiradas de trabalhos do autor sobre a AMAN e o Duque de Caxias).

E Nossa Senhora da Conceição foi a devoção do Duque de Caxias patrono do Exército e da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e que ao falecer a única decoração em seu quarto era uma gravura de Nossa Senhora da Conceição , que hoje se encontra no Museu da Academia Militar das Agulhas Negras desde que a ela foi entregue por seu biografo Dr Eugênio Vilhena de Morais. Imagem que reproduzo na gravura 110 na página 322 de meu livro Caxias e a Unidade Nacional em 2003 de que existe exemplar na Biblioteca do CFNSA.
Durante a Revolução Farroupilha a igreja de Canguçu esteve a beira da ruína. E o então Barão de Caxias determinou a tropa ao comando do Ten Cel da Guarda Nacional Francisco Pedro de Abreu, o Moringue, que a restaurasse. O Duque de Caxias foi consagrado com o nome de rua transversal, em Canguçu, a que fica para o sul da rua Cel GN Genes Gentil Bento.Esta rua no meu tempo de criança era que segundo a tradição local dividia em Canguçu, simbolicamente, o Brasil, mais desenvolvido do Uruguai, mais atrasado.













Pintura do Barão de Caxias com cerca de 42 anos ao tempo em que como Presidente da Província e comandante do Exército na Província do Rio Grande do Sul a pacificou e foi por ele eleito seu senador pelo Partido Conservado até o final de seus dias. Ao lado visão da Igreja N.Sra. da Conceição da Freguesia de Canguçu com uma torreão, tempo em que ela estava em adiantado estado de ruína e o Barão de Caxias deu ordem ao comandante da Ala Esquerda de seu Exército com sua Base de Operações em Canguçu que a restaurasse. (Fontes: Livros BENTO. Caxias e a Unidade Nacional 4ª capa e Canguçu reencontro com a História).


Várias localidades do Brasil ligadas a História de Portugal e por extensão a sua História Militar a receberam como padroeira, ou como devoção, como foi o caso de Salvador e Recife que enfrentavam os holandeses na época da sua consagração como padroeira e rainha de Portugal. E foi o caso de Resende fundada por
uma Bandeira comandada pelo Ten Cel de Ordenanças Simões da Cunha Gago, cuja padroeira é
Nossa Senhora da Conceição.
E foi também o caso de Canguçu como abordamos no início, criado como capela Curada em 1800, pelos Tenentes Generais Conde de Resende Vice Rei do Brasil e Sebastião Veiga Cabral da Câmara – Comandante Militar do Rio Grande do Sul, como Comandância Militar subordinada ao Rio de Janeiro que então autorizaram a criação da Capela de Nossa Senhora da Conceição de Canguçu, por razões estratégicas
militares. E foi assim que surgiu Canguçu, repetimos, para ajudar a prevenir que uma invasão espanhola
a partir de Cerro Largo atingisse Canguçu, antiga base de guerrilhas de Rafael Pinto Bandeira e
onde ela guardava as manadas arreadas de gado espanhol. Criada a capela Curada de Nossa Senhora
da Conceição em Canguçu, ela atraiu moradores do pequeno povoado Canguçu onde funcionara
a Real Feitoria do Linho Cânhamo de Rincão do Canguçu 1783/1789. Com a criação de Canguçu este
local passou a denominar-se Canguçu Velho, e a Capela curada recém criada passou a ser orientada
por seu Inspetor Cel Jerônimo Xavier de Azambuja, antigo guerrilheiro de Rafael Pinto Bandeira que contribuiu com a maior quantia para a construção da nova capela, e era na época a segunda autoridade
militar da Fronteira do Rio Grande conforme detalhes que revelamos nas seguintes obras: Os 200 anos
da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição de Canguçu 1800-2000, - Canguçu 200 anos – Fundada em
1º janeiro 1800 e - Canguçu reencontro com a História edições de 1983 e 2007 e outras mencionadas
na bibliografia ao final. O Cel Jerônimo durante a Guerra de 1801 foi o subcomandante da Legião de Cavalaria encarregada da Defesa da Fronteira do Rio Grande, ao comando do grande fronteiro Cel Manoel
Marques de Souza 1º, consagrado patrono da 8ª Brigada de Infantaria Motorizada de Pelotas que estudamos em nosso livro História da 8ª Bda Infantaria Motorizada.

Arcebispo e Bispo de Campos- RJ Dom Otaviano de Albuquerque, nascido em Canguçu em 3 de julho de 1866, ao tempo da Guerra do Paraguai e filho de Francisco José Pereira de Albuquerque de Dona Manuela Felicidade Garcia. Depois de cursar em Canguçu a Escola Régia para meninos do Professor Antônio Joaquim Bento, fez seus estudos no Colégio Nossa Senhora da Conceição em São Leopoldo. Foi eleito bispo do Piauí em 2 de abril de 1904. Promovido a Arcebispo de São Luiz do Maranhão em 27 de outubro de 1922, depois de visitar Canguçu em 2 de janeiro de 1922. Atuou muito no Rio de Janeiro na década de 30 no Mosteiro de São Bento, cabendo-lhe a iniciativa da criação da Páscoa dos Militares no Rio de Janeiro. A seguir foi nomeado como Arcebispo - Bispo de Campos-RJ, local onde faleceu aos 82 anos em 3 de janeiro de 1949 sendo sepultado na cripta da Catedral de Campos. Cidade onde foi homenageado com nome de uma rua e de igual modo em Canguçu sua terra natal. Entre seus colegas de infância recordou Genes Gentil Bento e André Leão Puente. É patrono de cadeira na Academia Canguçuense de História e o estudamos em nosso livro Canguçu reencontro coma a História em Filhos ilustres de Canguçu. 


Junto com Canguçu foram fundadas dentro deste contexto estratégico Caçapava e Encruzilhada do Sul sobre os possíveis caminhos de invasão ao Rio Grande do Sul pela Campanha. Ou sejam Santa Tecla-  Encruzilhada - Rio Pardo. E o mais novo caminho de invasão previsível Cerro Largo - Herval – Piratini
– Canguçu. E Canguçu se conquistado pelo o invasor dali poderiam seguir para conquistar Rio Pardo ou para conquistar Rio Grande sedes dos comandos das Fronteiras do Rio Pardo e do Rio Grande divididas pelo rio Camaquã e pontos inicial e final do primeiro caminho histórico do Rio Grande do Sul, mencionado pioneiramente pelo General Paula Cidade, meu patrono de cadeira no Instituto de História e Geografia
Militar do Brasil (IHGMB). Caminho antigo usado pelos índios guaranis do Tape da Região das Missões para comunicações com o litoral através da Terra dos Tapes, em torno de Canguçu Velho atual.

A HISTÓRIA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO A PADROEIRA DE CANGUÇU

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Autor Cel Claudio Moreira Bento
Presidente e fundador da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, do Instituto de
História e Tradições do Rio Grande do Sul e da Academia Canguçuense de História. Foto
em seu escritório em sua casa em Penedo Itatiaia-RJ, vendo-se ao fundo o seu Armário
sobre assuntos relacionados com a História de Canguçu, onde na prateleira superior
aparece a imagem de N.Sra. da Conceição que foi a padroeira do Exército no Império, e é
de grande número de municípios gaúchos e de Canguçu.




A ideia de fundar Canguçu em 1800, segundo a tradição, partiu de um grupo de moradores do local que o obtiveram dos contendores da disputa pela posse do Rincão do Tamanduá, onde hoje se assenta a cidade de Canguçu. Mas em realidade eles executaram uma estratégia do Vice Rei do Brasil (1790-1801) Ten. Gen. D. José Luis de Castro e 2º Conde de Resende de melhor povoar a indefinida Fronteira de Portugal com a Espanha, resultante do Tratado de Santo Ildefonso de 1777, que no Rio Grande do Sul a Espanha impôs
a Portugal, na forma de uma fronteira Portugal-Espanha separada por uma faixa neutra, terra de ninguém, sem lei e sem, rei denominada Campos Neutrais. Faixa neutra que absorvia todo o atual município de Santa Vitória do Palmar. Quanto ao território entre os rios Piratini e Jaguarão com um limite a ser definido, mas balizado como certeza pelo rio Piratini, onde como povoação mais meridional portuguesa era a Vila dos Casais, a atual Piratini criada em 1789, ano da Revolução Francesa e da remoção de Canguçu no local hoje conhecido como Canguçu – Velho, por questões de Segurança.
E por esta época sentia-se iminente uma guerra que ocorreu em 1801, em que temia-se uma 3ª invasão espanhola que era esperada partir do Forte de Cerro Largo espanhol e a seguir atingir, em linha seca o rio Jaguarão e pelo passo Centurion, ou passo Nossa Senhora da Conceição, e a seguir em linha seca atingir os atuais municípios de Herval do Sul, Pinheiro Machado, Piratini e Canguçu. Caminho histórico este que em sentido contrário foi percorrido pela guerrilha de Rafael Pinto Bandeira na Guerra de 1774/77, para penetrar no atual Uruguai, entre as fortalezas espanholas de Santa Tereza e Santa Tecla (junto a Bagé) e La mais além a arrear vacuns e cavalares e trazê-los como presas de guerra e os depositar no campos de Canguçu, conforme mapa publicado pelo General Augusto Tasso Fragoso em seu livro A Batalha de Passo do Rosário. Abordamos Canguçu como base de guerrilha em nosso livro Canguçu reencontro com a História p.20-23. João de Oliveira por escrito cedeu o direito que poderia ter sobre o Rincão do Tamanduá. E o Capitão-Mor Paulo Xavier Prates, supondo-se o verdadeiro dono do Rincão do Tamanduá cedeu este terreno por escritura pública.

Brigadeiro Rafael Pinto Bandeira Governador Militar do Rio Grande do Sul de então que transferiu a Real Feitoria do Linho cânhamo do Rincão de Canguçu 1783/89, de Canguçu Velho atual, e presumo que por questões de Segurança do estabelecimento, face a iminente guerra de 1801 para o Faxinal da Courita em São Leopoldo atual onde ela funcionou até 1824 e suas instalações acolheram os primeiros imigrantes alemães. Como Major Rafael havia permanecido longo tempo com sua base de guerrilhas em terras de Canguçu atual durante as invasões espanholas de 1763 a 1777 (Gravura de Rafael em BENTO CMS 4 décadas de História e Feitoria em BENTO Canguçu Velho a sede da Real). Ver bibliografia


Em vista da doação do Rincão do Tamanduá 140 moradores do local em ofício de 4 de dezembro de 1799, dirigido ao Capitão General Sebastião da Veiga Cabral, comandante militar do Rio Grande do Sul de então, subordinado ao Rio de Janeiro requereram a permissão para fundar Canguçu em invocação a Nossa Senhora da Conceição, petição teve despacho favorável em Rio Grande, 4 dias depois. Em 1º de junho de 1800, moradores de Canguçu reunidos elaboraram Estatuto pelo qual todos os terrenos do Rincão do Tamanduá seriam propriedade de Nossa Senhora da Conceição de Canguçu e seriam administrados pelo Capitão General Veiga Cabral de Câmara.
Os terrenos foram divididos em duas classes. Uns para edificar casas nas ruas marcadas. E outros seriam aforados e cercados para potreiros e outros serviços. Os primeiros terrenos classificados como de 1ª classe seriam vendidos a 1 patacão (960 reis), por dez braças de frente e vinte de fundo, ficando de propriedade do comprador E os de 2ª classe por 15 reis a braça e seriam propriedade de Nossa Senhora da Conceição de Canguçu.
Passam-se os anos e por volta de 1860, a padroeira de Canguçu ficou reduzida a propriedade do terreno onde a igreja foi construída, conforme abordou J. Simões Lopes Neto no Bosquejo do Municipal de Canguçu, na Revista do Centenário de Pelotas nº 4, em 1912. Em 2 de abril de 1863 a Irmandade conjunta do Santíssimo Sacramento e de Nossa Senhora da Conceição dirigiram requerimento à Câmara de Deputados do Império na tentativa de reaver os terrenos doados a padroeira. Requerimento assinado pelo Provedor vereador Theophilo de Souza Mattos e pelo vice-provedor professor Antonio Joaquim Bento, no propósito de reaverem os terrenos de propriedade de Nossa Senhora da Conceição incorporados pelo Município em 1857, ao ser este criado e por força das Leis de Amortizações não concederem dispensa à
Irmandades.
Os esforços da Irmandade foram frustrados, os quais detalhamos os em nosso livro 200 anos da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição de Canguçu, às páginas 38/39. Conclusões a que chegamos ao reencontrarmos o requerimento da Irmandade conjunta no Arquivo Nacional no Rio, ao tempo em que dirigíamos o Arquivo Histórico do Exército, sendo Ministro da Justiça Paulo Brossard ligado por laços de família a descendentes de Malaquias Borba que foi estancieiro em Canguçu junto ao rio Camaquã e sogro do Ten Cel Honorário do Exército Theóphilo de Souza Mattos. Dirigia o Arquivo Nacional a neta de
Getúlio Vargas, Celina Vargas do Amaral Peixoto. Como demonstramos a fundação de Canguçu com toda esta pressa, em 1800, no ano anterior a Guerra de 1801 que empurrou a fronteira do corte do rio Piratini ao corte do rio Jaguarão, possuía motivações militares estratégicas, bem como razões militares a escolha de Nossa Senhora da Conceição que era na época a rainha e padroeira de Portugal e de seu Exército. 


Ten Cel Honorário do Exército Theofhilo de Souza Mattos vereador de Canguçu que comandou o Corpo de Cavalaria e da Guarda Nacional de Canguçu na Guerra do Paraguai e Professor Antonio Joaquim Bento o 1º professor régio para meninos de Canguçu e introdutor do Teatro no local e respectivamente amigos e provedor e vice-provedor da Irmandade N.S. da Conceição da Igreja Matriz de Canguçu que
encaminharam requerimento Câmara de Deputados do Império em 1860, na tentativa de obter a devolução dos terrenos do Rincão do Tamanduá que haviam sido doados a N.S. da Conceição e incorporados ao município quando de sua criação