A HISTÓRIA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO A PADROEIRA DE CANGUÇU

17/12/2010

Autor Cel Claudio Moreira Bento
Presidente e fundador da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, do Instituto de
História e Tradições do Rio Grande do Sul e da Academia Canguçuense de História. Foto
em seu escritório em sua casa em Penedo Itatiaia-RJ, vendo-se ao fundo o seu Armário
sobre assuntos relacionados com a História de Canguçu, onde na prateleira superior
aparece a imagem de N.Sra. da Conceição que foi a padroeira do Exército no Império, e é
de grande número de municípios gaúchos e de Canguçu.




A ideia de fundar Canguçu em 1800, segundo a tradição, partiu de um grupo de moradores do local que o obtiveram dos contendores da disputa pela posse do Rincão do Tamanduá, onde hoje se assenta a cidade de Canguçu. Mas em realidade eles executaram uma estratégia do Vice Rei do Brasil (1790-1801) Ten. Gen. D. José Luis de Castro e 2º Conde de Resende de melhor povoar a indefinida Fronteira de Portugal com a Espanha, resultante do Tratado de Santo Ildefonso de 1777, que no Rio Grande do Sul a Espanha impôs
a Portugal, na forma de uma fronteira Portugal-Espanha separada por uma faixa neutra, terra de ninguém, sem lei e sem, rei denominada Campos Neutrais. Faixa neutra que absorvia todo o atual município de Santa Vitória do Palmar. Quanto ao território entre os rios Piratini e Jaguarão com um limite a ser definido, mas balizado como certeza pelo rio Piratini, onde como povoação mais meridional portuguesa era a Vila dos Casais, a atual Piratini criada em 1789, ano da Revolução Francesa e da remoção de Canguçu no local hoje conhecido como Canguçu – Velho, por questões de Segurança.
E por esta época sentia-se iminente uma guerra que ocorreu em 1801, em que temia-se uma 3ª invasão espanhola que era esperada partir do Forte de Cerro Largo espanhol e a seguir atingir, em linha seca o rio Jaguarão e pelo passo Centurion, ou passo Nossa Senhora da Conceição, e a seguir em linha seca atingir os atuais municípios de Herval do Sul, Pinheiro Machado, Piratini e Canguçu. Caminho histórico este que em sentido contrário foi percorrido pela guerrilha de Rafael Pinto Bandeira na Guerra de 1774/77, para penetrar no atual Uruguai, entre as fortalezas espanholas de Santa Tereza e Santa Tecla (junto a Bagé) e La mais além a arrear vacuns e cavalares e trazê-los como presas de guerra e os depositar no campos de Canguçu, conforme mapa publicado pelo General Augusto Tasso Fragoso em seu livro A Batalha de Passo do Rosário. Abordamos Canguçu como base de guerrilha em nosso livro Canguçu reencontro com a História p.20-23. João de Oliveira por escrito cedeu o direito que poderia ter sobre o Rincão do Tamanduá. E o Capitão-Mor Paulo Xavier Prates, supondo-se o verdadeiro dono do Rincão do Tamanduá cedeu este terreno por escritura pública.

Brigadeiro Rafael Pinto Bandeira Governador Militar do Rio Grande do Sul de então que transferiu a Real Feitoria do Linho cânhamo do Rincão de Canguçu 1783/89, de Canguçu Velho atual, e presumo que por questões de Segurança do estabelecimento, face a iminente guerra de 1801 para o Faxinal da Courita em São Leopoldo atual onde ela funcionou até 1824 e suas instalações acolheram os primeiros imigrantes alemães. Como Major Rafael havia permanecido longo tempo com sua base de guerrilhas em terras de Canguçu atual durante as invasões espanholas de 1763 a 1777 (Gravura de Rafael em BENTO CMS 4 décadas de História e Feitoria em BENTO Canguçu Velho a sede da Real). Ver bibliografia


Em vista da doação do Rincão do Tamanduá 140 moradores do local em ofício de 4 de dezembro de 1799, dirigido ao Capitão General Sebastião da Veiga Cabral, comandante militar do Rio Grande do Sul de então, subordinado ao Rio de Janeiro requereram a permissão para fundar Canguçu em invocação a Nossa Senhora da Conceição, petição teve despacho favorável em Rio Grande, 4 dias depois. Em 1º de junho de 1800, moradores de Canguçu reunidos elaboraram Estatuto pelo qual todos os terrenos do Rincão do Tamanduá seriam propriedade de Nossa Senhora da Conceição de Canguçu e seriam administrados pelo Capitão General Veiga Cabral de Câmara.
Os terrenos foram divididos em duas classes. Uns para edificar casas nas ruas marcadas. E outros seriam aforados e cercados para potreiros e outros serviços. Os primeiros terrenos classificados como de 1ª classe seriam vendidos a 1 patacão (960 reis), por dez braças de frente e vinte de fundo, ficando de propriedade do comprador E os de 2ª classe por 15 reis a braça e seriam propriedade de Nossa Senhora da Conceição de Canguçu.
Passam-se os anos e por volta de 1860, a padroeira de Canguçu ficou reduzida a propriedade do terreno onde a igreja foi construída, conforme abordou J. Simões Lopes Neto no Bosquejo do Municipal de Canguçu, na Revista do Centenário de Pelotas nº 4, em 1912. Em 2 de abril de 1863 a Irmandade conjunta do Santíssimo Sacramento e de Nossa Senhora da Conceição dirigiram requerimento à Câmara de Deputados do Império na tentativa de reaver os terrenos doados a padroeira. Requerimento assinado pelo Provedor vereador Theophilo de Souza Mattos e pelo vice-provedor professor Antonio Joaquim Bento, no propósito de reaverem os terrenos de propriedade de Nossa Senhora da Conceição incorporados pelo Município em 1857, ao ser este criado e por força das Leis de Amortizações não concederem dispensa à
Irmandades.
Os esforços da Irmandade foram frustrados, os quais detalhamos os em nosso livro 200 anos da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição de Canguçu, às páginas 38/39. Conclusões a que chegamos ao reencontrarmos o requerimento da Irmandade conjunta no Arquivo Nacional no Rio, ao tempo em que dirigíamos o Arquivo Histórico do Exército, sendo Ministro da Justiça Paulo Brossard ligado por laços de família a descendentes de Malaquias Borba que foi estancieiro em Canguçu junto ao rio Camaquã e sogro do Ten Cel Honorário do Exército Theóphilo de Souza Mattos. Dirigia o Arquivo Nacional a neta de
Getúlio Vargas, Celina Vargas do Amaral Peixoto. Como demonstramos a fundação de Canguçu com toda esta pressa, em 1800, no ano anterior a Guerra de 1801 que empurrou a fronteira do corte do rio Piratini ao corte do rio Jaguarão, possuía motivações militares estratégicas, bem como razões militares a escolha de Nossa Senhora da Conceição que era na época a rainha e padroeira de Portugal e de seu Exército. 


Ten Cel Honorário do Exército Theofhilo de Souza Mattos vereador de Canguçu que comandou o Corpo de Cavalaria e da Guarda Nacional de Canguçu na Guerra do Paraguai e Professor Antonio Joaquim Bento o 1º professor régio para meninos de Canguçu e introdutor do Teatro no local e respectivamente amigos e provedor e vice-provedor da Irmandade N.S. da Conceição da Igreja Matriz de Canguçu que
encaminharam requerimento Câmara de Deputados do Império em 1860, na tentativa de obter a devolução dos terrenos do Rincão do Tamanduá que haviam sido doados a N.S. da Conceição e incorporados ao município quando de sua criação


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